Futebol Americano
Thiago D'Amaral 2y

Do Lealzismo à Tavoneta: o ex-assistente de Jardine que se inspira em Diniz e sensação da Premier League para fazer história no México 5f656

O mercado da América Latina ainda é algo a ser explorado pelos treinadores brasileiros, que aos poucos começam a obter destaque depois de algum trabalho bem sucedido no Brasil, como foram os casos recentes de Tiago Nunes no Peru e André Jardine no México. 4c72e

Gustavo Leal, porém, é um caso diferente. Depois de ser auxiliar de Jardine na seleção brasileira olímpica e no Atlético San Luís, o treinador começa a dar seus os no México sucedendo o antigo companheiro e conseguindo repetir feitos logo no primeiro ano.

“Eu já vinha há um tempo planejando na minha cabeça essa transição de auxiliar para treinador. E eu acho que não tinha oportunidade melhor para isso acontecer do que o que aconteceu aqui. Por vários motivos, pelo caráter e pela nobreza do grupo de jogadores que a gente tem aqui, pelo fato de eu já de a diretoria me conhecer e de eu conhecer a diretoria, pelo fato de eu dar sequência a um trabalho do André, que afinal de contas era meu trabalho também”, disse ao ESPN.com.br.

Nesta quinta-feira (23), às 22h (de Brasília), o Atlético San Luís enfrentará o León-MEX em sua casa precisando de apenas uma vitória para chegar às quartas de final dos playoffs da Liga MX. E o grande desafio de Gustavo Leal é conseguir ultraar essas barreiras e pela primeira vez colocar o time entre os quatro melhores do país.

“A gente colocou isso na cabeça de superar os anos anteriores. Em alguns aspectos a gente conseguiu dentro do torneio regular. Foi o melhor torneio regular da história do clube. Terminar na sétima colocação nunca tinha acontecido antes. Marcar a quantidade de gols que a gente marcou também não tinha acontecido anteriormente”, afirmou.

“Então, é uma coisa que a gente tem trabalhado muito, principalmente com os jogadores. É um grupo que já realizou alguns feitos importantes, mas que com certeza o feito mais importante está por vir, que seria ar das quartas de final, chegar pela primeira vez na semifinal e depois pensar, porque não, em uma final”, completou.

’Lealzismo’ ou ‘Tavoneta’? O que Gustavo Leal pensa do jogo? 2c3s4y

Mesmo dando os primeiros os em sua carreira, Gustavo deixa claro seu pensamento sobre o futebol: quer times ofensivos e que demonstrem o carinho pela bola. “Todo mundo que trabalha com futebol, seja como jornalista, como treinador, como comissão técnica, como jogador, como todo mundo que escolheu trabalhar com futebol tem uma paixão pelo futebol. Só que antes da paixão pelo futebol vem a paixão pela bola”.

“Você joga sozinho em casa. Primeiro você ganha uma bola, você começa a jogar sozinho, você joga com a parede, você dribla a cadeira. E depois que você vai descobrindo que dá para jogar contra uma pessoa, contra seu irmão, aí você joga de chinelinho fazendo golzinho. Depois você joga com seus amigos, depois começa a entender que tem um campeonato, aí que você começa a entender que vale três pontos, que você começa a entender que se você ganhar esse campeonato, você classifica para o outro”, seguiu.

“E aí que vem o futebol que a gente conhece hoje em dia. Mas, no início, na infância, na pureza da criança, a paixão é pela bola. Então, isso é uma coisa que eu não perdi. E é uma coisa que eu faço com que meus jogadores se recordem todo o tempo”, acrescentou.

Querendo sempre propor jogo e ser agressivo tendo a bola, Leal constrói sua filosofia de jogo – o Lealzismo, como costumamos chamar no Brasil, ou a Tavoneta, como chamam no México – e não se contenta com placares magros.

“A gente tenta ser uma equipe que propõe o jogo, que tem a posse de bola, que tenta ser agressiva com e sem bola, que tenta olhar a baliza todo o tempo, que se tiver ganhando de 2 a 0 e puder buscar o terceiro, o quarto, a gente vai buscar ao invés de se fechar para manter esse 2 a 0”, apontou.

E a torcida mexicana ‘comprou sua briga’ logo de cara. “Eu vejo a torcida orgulhosa, eu vejo a torcida agradecendo. Eu vejo mais uma vez uma coisa que eu sempre falo: o discurso é muito bonito, a teoria aceita qualquer coisa, eu posso escrever o melhor best-seller, mas a prática que comprova as coisas. Então isso que eu falei, de gostar do time ofensivo, de não gostar do 0 a 0, por muitas das vezes a gente aqui estava ganhando algum jogo e a minha substituição era de um volante para um meia, era de um meia por um outro atacante”.

“E eu via que eu fazia isso pensando na gente, pensando no time e acabavam os jogos e eu pensava: ‘cara, pode ser que um ou outro me ache maluco porque a gente não fechou e a gente estava ganhando de 2 a 0 fora de casa’. E eu comecei a ver que não, que a torcida ficava feliz com cada substituição dessa que a gente fazia de tirar um jogador de defesa e botar mais um de ataque, de levar o time pra cima. Você vê que a torcida se sente representada por isso. Porque, mais uma vez, eu acho que, afinal de contas, todo mundo em algum momento foi apaixonado pela bola. Então é o que eu tento replicar e trazer. E é como eu me sinto feliz trabalhando. Se não for assim, talvez eu não sei se eu estaria nessa função”, acrescentou.

De Guardiola a Diniz, Leal demonstra suas inspirações 4u1bd

Dentre as suas inspirações, Gustavo não esconde a iração por treinadores ofensivos, como Pep Guardiola e Jürgen Klopp. Vindo de fora, porém, um nome chama a atenção: Roberto de Zerbi.

“Para mim, o que ele consegue fazer com o Brighton hoje em dia, que não é a equipe de maior orçamento da Liga, os resultados que ele consegue com o time dele, isso é uma coisa que também me chama atenção, que não só os treinadores que são campeões, mas os treinadores que conseguem levar as suas equipes acima da expectativa do senso comum. Em especial o De Zerbi. E porque eu vejo as nossas ideias de jogo parecidas, principalmente nas saídas sob pressão”, avaliou.

Entre os brasileiros, além de André Jardine, com quem trabalhou em dois diferentes ambientes, Leal também demonstra iração por seu amigo Fernando Diniz, colega de turma nos cursos de formação da CBF ao lado de Wagner Bertelli, um dos assistentes do técnico do Fluminense.

“A primeira vez que a gente se conheceu, eu trabalhava no sub-20 do Fluminense e foi justamente quando o Diniz foi contratado. Mas, por incrível que pareça, foi um momento que a gente teve menos contato, e a gente acabou tendo mais contato depois, ao longo desses anos. E a última licença da CBF, a gente fez enquanto os dois estavam sem clube, e eu acho que foi onde aconteceram as maiores interações. E hoje o Diniz é um amigo que eu falo com frequência, é um cara que eu já coloquei como meta que eu não posso ficar mais de um ano sem ter um encontro presencial com ele, porque a última vez a gente ficou num almoço que deve ter durado duas horas e meia, três horas”, relembrou.

“É um cara que serve para mim de inspiração e em muitos aspectos, a maneira como ele enxerga as coisas, a carreira que ele teve, os percalços que ele teve na carreira, tanto de jogador, como treinador, fizeram ele ser essa personalidade que ele é agora, a maneira como ele enxerga várias outras coisas. O Diniz é um cara que muita das vezes você entra em uma conversa com ele tendo certeza absoluta de alguns assuntos e sai com a cabeça cheia de dúvidas. Mas isso te enriquece, porque te faz refletir, te faz questionar. Então, na verdade hoje o Diniz é um cara que eu tenho uma iração por ele em vários aspectos diferentes e uma das principais é isso que ele consegue extrair dos jogadores”, complementou.

A forma como Diniz trabalha com seus jogadores, inclusive, é mais uma inspiração para Gustavo em seu dia a dia. “Isso é um mantra que eu tenho também de fazer com que os jogadores comigo tenham o melhor momento da sua carreira até aquele determinado momento. E queira Deus que depois que saiam do nosso trabalho que sigam desenvolvendo. Mas eu fico muito feliz quando eu escuto alguém comentar que determinado jogador está no melhor momento da sua carreira e esse melhor momento é trabalhando com a gente, eu tenho isso como um mantra e um objetivo”.

A experiência com André Jardine 4y5r43

Tendo anteriormente trabalhos em clubes pequenos do Rio de Janeiro e nas categorias de base do Fluminense, Gustavo Leal chegou à elite profissional sendo auxiliar de André Jardine durante três anos e meio. E, mesmo sonhando com sua chance, conseguiu aprender muito com o colega, atualmente rival no América-MÉX.

“Eu tinha na minha cabeça que em algum momento da minha carreira, para terminar o meu desenvolvimento como treinador, eu precisava trabalhar como auxiliar com alguém com um pouco mais de tempo para ter algumas visões, para trocar ideias de algumas coisas, para amadurecer alguns pensamentos, para presenciar algumas situações. E eu sempre coloquei na cabeça que teria que ser um treinador que eu iria compactuar com as ideias de jogo. Porque seria muito difícil trabalhar com um treinador onde a gente pensasse oposto em relação a isso”, afirmou.

“E o André foi justamente esse treinador que a gente conseguiu se desenvolver junto. Acho que da mesma maneira que eu me desenvolvi trabalhando com ele, ele também se desenvolveu, de certa forma, trabalhando comigo. Foi uma parceria muito vitoriosa, porque a gente conseguiu classificar para as Olimpíadas, que não é fácil, ganhar esse ouro olímpico, depois vir para cá e conseguir mudar o status do clube. Porque claro que, como eu já falei, tem um planejamento estrutural, econômico e tudo”, seguiu.

“Mas a gente sabe que sem os resultados as coisas não caminham como deveriam caminhar. Então a gente conseguiu também dar esses resultados que o projeto precisaria agora e nesse momento agora é seguir com o apoio ao André na torcida para que ele consiga ir longe no América e continue prosperando na carreira, e a gente tentar bater as marcas que ele deixou aqui”, finalizou.

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